Comecei a me tornar um leitor assíduo em 1984, quando o amigo Paulo Shimizu, me sugeriu que, ao invés de me aborrecer nas salas de espera dos clientes, levasse sempre em minha bolsa algum livro para ler. A sugestão ocorreu em um dia, quando a ele me queixava do meu aborrecimento, de ter sido atendido com mais de uma hora de atraso, em um cliente com o qual eu havia agendado e confirmado uma reunião para as 14 horas. Gostei e acatei a sugestão do meu amigo.
Comecei pelo livro “Teoria Z – Como as empresas podem enfrentar o desafio japonês” de Willian Ouchi, publicado pela primeira vez no início da década de 80. De lá para cá, li centenas de livros e acabei por montar uma biblioteca de cerca de uma dúzia de estantes abarrotadas deles, muitos dos quais autografados pelos respectivos autores.
Os assuntos mais recorrentes são manufatura, usinagem, gestão, planejamento estratégico, marketing, vendas, clássicos da literatura universal, clássicos da literatura brasileira, motivação, autoajuda, conhecimentos gerais, saúde, economia, filosofia, mitologia, teologia, biografias de grandes líderes, teatro, ciências e história. Apesar de ler muito, comprava mais livros do que me era possível ler.
Eram tantos, que um dia Danilo, meu filho, à época com uns 8 anos, ao me ver entretido com a arrumação dos tantos livros me disse:
─ Pai! Eu sei o que você é!
Ao que respondi:
─ Diga meu filho! O que eu sou?
E ele então me respondeu:
─ Um colecionador de livros!
Me diverti com a sabedoria da resposta, pois naquele momento, efetivamente, eu estava mais colecionando do que lendo. Tentei até estipular uma regra, do tipo: Só comprarei um livro novo, quando ler, ao menos, dois entre os que já possuo e ainda não li! Não funcionou muito bem na ocasião. Eu visitava tanto a livraria Siciliano da rua Coronel Oliveira Lima em Santo André e percorria tanto as prateleiras da loja em busca de títulos que me saltassem aos olhos, que, por vezes, ajudava os demais clientes a encontrarem livros que os próprios atendentes não estavam obtendo êxito em localizar! Até então, acreditava que se lesse sobre o que fez Atila, eu também me tornaria o rei dos Hunos.
Considero minha biblioteca uma das minhas maiores riquezas. Sou professor universitário há 26 anos e palestrante há mais tempo ainda. Seja qual for o tema a mim solicitado, quase sempre tenho onde recorrer para montar alguma nova argumentação. Não vendo, não troco, não alugo e evito ao máximo emprestar qualquer dos meus livros. A experiência tem me demonstrado, que quase sempre, eles não voltam e sou extremamente ciumento do meu acervo.
Tudo bem! Mas qual a relação disso tudo com o título desse post? Pois bem! Após esses 32 anos de leitura fui, aos poucos, aprendendo, que os livros são grandes amigos. Me fazem companhia nos meus dias de tristeza ou de chuva na praia. Inspiram grandemente meu espírito sonhador, me educam e me confortam quanto as tantas ansiedades, que afligem minha alma. Me trazem esperança quando imagino tudo estar perdido. Me sugerem estratégias que jamais pensaria por mim mesmo. Alimentam meus desejos, meus apetites e fantasias. Me levam a conhecer o passado e me sugerem o futuro. Ampliam minha cultura geral, me ensinando a amar, viver e morrer melhor. Trazem para dentro da minha casa povos, países, lugares e pessoas. Aumentam minha autoestima e minha autoconfiança, contudo, não movem, sequer uma pequena pedra do meu caminho, se eu mesmo não a remover com as próprias mãos.
Posso ler um livro de mil páginas sobre Paris, contudo, por mais que aprenda sobre a cidade luz, nada se compara a caminhar fisicamente por suas ruas e vielas, ainda que por apenas uma hora. Ler e estudar é fundamental para saber o que as coisas são em potencial, mas jamais saberei o que são as coisas, efetivamente, se não viver o que li.
Autoridade só se obtém com a vivência, saber é importante, porém nos torna, apenas, teóricos. A consolidação do êxito só se dá com a prática. Apesar disso, a leitura ainda tem um valor inestimável, pois se após ter lido mil páginas sobre Paris eu tivesse apenas 60 minutos para caminhar por seus bairros e praças, com certeza, traçaria melhores roteiros turísticos e seria mais feliz, apesar do exíguo espaço de tempo.
Ler sobre a indústria 4.0 ou sobre os métodos de produção embasados em inteligência artificial, pode ser um bom começo para o progresso das empresas, todavia, sem tomar a iniciativa de fazer experimentos menores, que possam, posteriormente, tornar-se uma ação geral, é possível que muita indústria e muitos profissionais acabem às margens do caminho que conduz a um futuro de glórias. É possível ler sobre as técnicas utilizadas pelos grandes campeões olímpicos de natação, entretanto e em geral, a medalha de ouro irá para o peito daquele que passou mais tempo dentro d’água do que na biblioteca!
Marcondes, 04 de abril de 2016 02:34