UM BRASIL POSSÍVEL

 

                  Para simples ilustração

De todos os desafios que uma pessoa pode enfrentar, é possível que o maior deles seja mudar suas convicções pessoais sobre como ganhar o pão de cada dia ou, de modo mais profundo, sobre o verdadeiro sentido da vida, ainda que tais convicções estejam equivocadas. Um exemplo disso é o que cada indivíduo considera certo ou errado.

Uma atitude considerada inaceitável quando cometida contra uma certa pessoa é tida como algo natural e bom, por ela mesma, caso essa atitude a venha beneficiar. Mesmo que uma legião de outros indivíduos esteja sendo prejudicada. Pois é muito comum as pessoas pensarem mais em si mesmas e nos seus correligionários, do que na coletividade! Para pensar no todo, antes de pensar em si é preciso brio. Algo raro entre os homens.

Quanto maior for a disparidade no alinhamento cultural dos diversos grupos que compõem certa sociedade, chegar a um consenso geral em prol do bem comum é uma tarefa inglória.

Tomando o Brasil por base, minha experiência diz que, implantar projetos que pudessem ser socialmente mais justos e que, ao mesmo tempo, contribuíssem para o desenvolvimento do país, implicaria em melhorar o estado de coisas que está ruim para muitos e piorar o que está maravilhoso para poucos. Principalmente, se considerarmos que os responsáveis por tomarem as decisões sobre o futuro da nação, são justamente os poucos maravilhados, que se consideram uma casta à parte, locada acima do bem e do mal.   

Importante ressaltar que a moral e a ética, imprescindíveis à prática do bem supremo, não são, necessariamente, intrínsecas à posição acadêmica, social, política ou econômica das pessoas. Há gente boa e ruim em todas as camadas sociais. Administrar de modo justo e isento com vistas ao bem comum é bem mais uma questão de caráter. Parafraseando Demócrito “o caráter de um povo encerra o seu destino”!

Há quem diga que o Brasil é um país jovem e o tempo nos ensinará a escolher melhor nossos governantes. De tanto errar, uma hora se aprende! De todo modo, os governantes em si não são bem o real problema. São muito mais a consequência de se ter uma grande parcela da população, altamente volúvel e influenciável, sem o necessário poder de análise, que a permita separar o joio do trigo. Como diria Platão, ainda não saíram das cavernas da obscuridade.

Enquanto isso, dirigentes se elegem e decidem sobre o futuro do país, apenas por serem bons oradores. Seus sofismas e discursos populistas arrebatam as almas despreparadas. São ótimos atores. Convencem o eleitorado de que estão aptos a conduzir a nação a um estado de excelência administrativa. No entanto, não passam de um ‘sepulcro recém pintado, que aparenta beleza por fora, mas dentro de si comportam podres cadáveres’.

 A grande questão é que: Não se faz um país do primeiro mundo apenas com retórica. É fundamental a boa gestão de recursos. É indispensável uma liderança íntegra e honesta. É essencial um planejamento bem feito com gestores especialistas e competentes em cada ministério. É imprescindível conhecimento, tecnologias e competências, frutos de uma estrutura educacional atualizada, austera, idônea e sólida. Enfim, é vital que se tenha amor pelo país e pelo povo, muito bom senso e, acima de tudo, trabalho, trabalho, trabalho e mais trabalho.

Ocorre, no entanto, que ao longo de nossa existência como nação independente, ao menos a meu ver, nossos governantes têm trabalhado muito mais com a língua do que com os braços. São como o Dinossauro Rex, um tremendo potencial, contudo, de braços curtos. Muitas promessas e resultados pífios. Talvez seja um exagero, mas me parece que quanto mais adeptos aos discursos, tão menos afeitos ao trabalho!

A principal ferramenta desse tipo de gente é a falsidade. Todavia o tempo é o verdadeiro juiz. Uma mentira é como um peixe escondido no armário. Por mais oculto que esteja, não tardará para que o cheiro pútrido denuncie sua sórdida existência.

O problema é que esse tipo de comportamento onde a boa oratória parece ser suficiente para consolidar o sucesso de um líder, acaba por influenciar o modo de pensar de muita gente.

Não me surpreenderia se essa fosse a razão de muito mais jovens preferirem seguir carreiras como propaganda, marketing, psicologia, direito e administração do que as grandes áreas da engenharia, tais como mecânica, elétrica, civil, metalurgia, mecatrônica, naval, aeronáutica, entre outras.

Há algum tempo ouvi em um dos encontros promovidos pela ABEPRO – Associação Brasileira de Engenharia de Produção, que o Brasil poderia ser a quinta economia do mundo até o ano de 2025, contudo e para tanto, o número de egressos das universidades deveria ser, ao menos, 25% provenientes das áreas das ciências exatas, porém, atualmente esse número alcança sequer 5%.

Não sei se o fato ocorre por uma questão de convicção e escolha do candidato ou pela deficiência da estrutura educacional do ensino fundamental e médio, que não faz o devido trabalho para que crianças e jovens se sintam motivados e à vontade ante o desafio dos cálculos e dos números.

A maioria dos jovens preferem o escritório e o ar-condicionado, do que a graxa e o calor do chão de fábrica ou os desafios das obras de infraestrutura e das indústrias de base.

Creio que seja esse o motivo pelo qual um estagiário da área de humanas, recebe um salário próximo de mil reais mensais e tem dificuldade para se colocar no mercado de trabalho, pois a oferta desse tipo de mão-de-obra é muito grande, enquanto um estagiário de engenharia vem sendo procurado pela indústria, ainda nas salas de aula e recebem salários que podem chegar a mais de cinco mil reais, por conta da sua raridade. Principalmente, se forem estudantes das entidades de ensino de primeira linha.

Há, por exemplo, operadores de máquinas CNC (em especial as de cinco eixos programáveis), mandriladores de máquinas pesadas, técnicos de manutenção, projetistas de máquinas e equipamentos, que são verdadeiras ‘moscas brancas de olhos azuis’ e chegam a ganhar mais que muitos engenheiros em começo de carreira.

Outro ponto, são os empresários e estrategistas ingênuos, que se empolgam em alardear a necessidade imediata de se investir nas tendências futuristas, enquanto carências elementares de suas fábricas, talvez os leve à bancarrota antes que o dia amanheça. Discutem a cereja de um bolo que ainda nem foi assado. Querem revolucionar o mundo, porém, não obstante consertam sequer as goteiras do telhado da própria casa.

É estratégico e necessário sim, considerar, preparar-se e investir no futuro, contudo com parcimônia, sobriedade e inteligência, para que isso ocorra nem cedo, nem tarde demais.

Quando então será o momento certo de se cuidar disso ou daquilo? Nenhum executivo será capaz de responder a essa pergunta com precisão, sem o apoio de um eficaz sistema de Business Inteligence!  

Com certeza é preciso manter as tendências tecnológicas sob perspectiva, todavia, como especialista e jornalista profissional no campo da manufatura há quase duas décadas, tenho visto muitas empresas fecharem as portas ou ficarem à margem do mercado, muito mais pela falta do óbvio do que pela falta do novo. Nada contra manter um olho no peixe, mas é imprescindível manter o outro no gato!

 

Marcondes, 17 de janeiro de 2020.                                                     19h23

6 comments on “UM BRASIL POSSÍVEL”

  1. José Pavani Sobrinho Responder

    Caro professor! Não se constrói uma grande nação da noite para o dia. Constrói-se com muita dedicação ao longo do tempo, apostando no jovem, fazendo dele a alavanca que movimentará todas as áreas do desenvolvimento, o qual fará o país competitivo. Diria que o capital humano é a principal riqueza desse país, fazendo dele um grande exemplo ao lado das principais nações que investem em educação. Um país que não trata suas crianças e jovens, com o devido cuidado que merecem, nunca terá um horizonte cheio de luz. Sempre seremos um país de um futuro incerto. Conversa fiada de político ladrão que governa para si e seu partido político, usando o povo como mero instrumento de voto, se fartando das riquezas do estado e pondo migalhas na mesa do trabalhador, faz do Brasil, cada vez mais miserável.

    • Francisco Marcondes Responder

      Prezado Pavani !
      Obrigado pelo comentário.
      Estamos alinhados.
      Temos de manter a esperança e influenciar até onde for possível aqueles que passarem por nós.
      Se nada mudar, ao menos teremos plantado algumas sementes.
      Grannnnnde abraço!

  2. Sergio Signorini Responder

    Pode acreditar meu caro professor Marcondes, nunca encontrei uma pessoa com tantas ideias iguais as minhas, parece que estava a ler exatamente meus pensamentos. Mas confesso minha descrença total em sermos um país melhor. Não acredito mais no sistema, e quando isso acontece as forças motivadoras deixam de ser impulsionadas, e vivo nessa inercia maldita, por não ter vontade de lutar contra esses governo hipocrita, egoista e orgulhoso.(CORRUPTO) Felicito pela sua palavras sabias, mas são escritas para ninguem em lugar nenhum.

    • Francisco Marcondes Responder

      Prezado Sergio!
      Muito obrigado pelo comentário!
      Entendo perfeitamente o teu pensamento.
      Fiquei um bom tempo sem escrever nada, por conta dessa descrença.
      Muitas vezes me parece que escrevo para mim mesmo, até porque as pessoas que mais precisariam saber do que sabemos, mal sabem ler e os que sabem ler, não sabem interpretar o que leram.
      Porém, se desistirmos, sobrará que esperança!?

    • Francisco Marcondes Responder

      Prezada Claudia!
      Muito obrigado pelo privilegio que me concede por ter lido o meu artigo e, além disso, compartilhá-lo com sua rede de contatos.
      Sou professor universitário desde 1990 no período noturno e durante o dia me aposentei trabalhando para a indústria.

      Ministro aulas, principalmente, nas áreas de vendas e marketing para cursos de Administração de Empresas.
      Penso que todo brasileiro deveria fazer curso de Administração.
      Todo profissional, de qualquer área, se bem sucedido, se tornará um administrador.
      Muitos talentos de outras áreas, engenheiros, biólogos, geógrafos, psicólogos, químicos, etc. fazem uma carreira brilhante como especialistas e técnicos, ganham dinheiro e decidem montar o próprio negócio, contudo, acabam falindo, porque sabem muito de suas áreas, porém, não sabem administrar.

      O curso de administração possibilita aos alunos, terem contato com as mais diversas áreas da empresa: RH, Produção, Vendas, Marketing, Finanças, Logística, etc. Daí digo a eles: Vejam qual dentre todas as disciplinas que irão cursar, qual lhes chama mais a atenção. Qual delas você tem maior prazer em assistir as aulas. Qual professor de que matéria te agrada mais?

      Quando identificar que matéria é essa, você acaba de descobrir em qual disciplina deverá fazer uma pós-graduação e em qual área terá maior chance de fazer a vida!

      Claudia! Mais uma vez obrigado!

      Te desejo um ótimo final de semana e muito sucesso!
      Parabéns pela educação que proporcionou aos teus filhos!

      Abraço!

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