Li, certa vez, que aos anjos cabe toda a obediência espiritual, sob o mais elevado rigor cerimonial; enquanto aos animais cabe todo o prazer carnal sem a mínima preocupação com regras morais ou recomendações sociais de etiqueta.
Alocados em outra dimensão, já não cabe aos anjos submeterem-se às tentações terrenas como a luxúria, a gula, a avareza, a ira, a soberba, a vaidade e a preguiça. Por outro lado, desprovidos da razão, da ética e da espiritualidade, não há como, sob a égide da justiça e da sabedoria, imputar aos animais qualquer tipo de responsabilidade.
Entre essas duas entidades extremas, ou seja, os anjos e os animais, encontra-se o homem. Ao seu alcance estão, tanto a razão, quanto a espiritualidade. No entanto, na dimensão em que ele se estabelece, está sujeito a todo tipo de tentação mundana. Contudo, é livre para escolher tanto ao que satisfaz a carne, quanto ao que eleva o espírito. Assim sendo, diz-se que um homem cuja vida esteja plenamente orientada à obediência espiritual está acima dos anjos. Todavia, aquele, cuja vida se oriente exclusivamente rumo aos prazeres carnais, está abaixo dos animais. Ao considerarmos esses dois limites, mais próximos de que ponto estaríamos nós?
A espiritualidade pressupõe prepararmo-nos para a nossa própria passagem para a eternidade, para a outra dimensão. Quem sabe, a dimensão da luz! A falta dela, nos coloca, provavelmente, à mercê da sorte ou de uma aposta, como dizia Pascal. Se depois desse hiato, chamado vida, nada houver; teremos usufruído ao máximo de todos os prazeres e em nada arriscaremos o porvir, por conta da falta de espiritualidade. Porém, se houver mesmo uma prestação de contas, há a possibilidade de sermos enviados para o andar de baixo. Quem sabe, a dimensão das trevas! Que papo para uma segundona brava, não?!
Ok! Quem sabe mais dois ou três parágrafos!
Quanto maior o nosso nível de espiritualidade, mais próximos estaremos da verdade, da paciência e da bondade. Mais longe estaremos da inveja, da vanglória, da arrogância, da inconveniência, do egoísmo, da ira, dos ressentimentos, da injustiça. A pessoa elevada espiritualmente, não se abate com os desafios, nem com as decepções ou sofrimentos da vida. Jamais perde as esperanças, tem força redobrada para tudo suportar.
Apostar na espiritualidade é apostar na força do amor de Deus e no amor ao próximo. É querer deixar um legado e cumprir uma missão de vida. Coisas, que, talvez, não temos sentido tanta falta agora, ao nos deixarmos levar pelo turbilhão da vida, dos tantos afazeres, dos intermináveis congestionamentos, dos tantos compromissos, das tantas obrigações, das contas a pagar, das tantas viagens, dos filhos para educar, da infinidade de e-mails para ler e outros tantos para responder; das tantas reuniões, ou seja, tudo isso que nos faz esquecer de que não somos eternos.
Ao romper da aurora e ao longo do dia, é muito provável que uma pessoa possa valer-se de seu vigor físico, do seu poder econômico, de sua posição social, do seu cargo, do seu poder de sedução, para arrancar da vida mais um deleite, mais uma vitória, mais um prazer, mais uma solução. Contudo, não é de se surpreender que, ao cair da noite da nossa breve passagem por este ínfimo ponto azul da galáxia, justamente essa espiritualidade, a quem demos tão pouca importância e por tanto tempo, possa nos fazer tanta falta, uma vez chegado o extremo momento, no qual a flama que alimenta a vida empalidece, tremula e prenuncia a extinção da chama.
Marcondes 22 de Setembro de 2014 02:19
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