É muito comum o homem ser lembrado como um animal racional, passando a ideia, ao menos a mim, de que, por este motivo, deveria ser, então, um ser equilibrado, que tudo vê, tudo sente, tudo observa, tudo analisa, tudo pondera e, na sequência, faz escolhas, toma decisões e age com base e em coerência com o bom uso da racionalidade.
Segundo o que pressuponho, deveria, pois, privilegiar o pleno equilíbrio, a justa medida, a ética, a moral, o respeito a si e ao próximo, os direitos e deveres de cada um e o bem estar da coletividade. Como animal “racional” provavelmente saberia que deve, sim, buscar sempre o melhor para si e para os seus, desde que, esse melhor não deteriore a estabilidade dos relacionamentos sociais do universo em que vive. Evitando, assim, tomar para si, aquilo que o justo mérito não lhe proporcione.
Agindo com base na razão, assumiria os louros de suas conquistas com naturalidade e sem qualquer ostentação, para com isso, evitar a mínima possibilidade de ferir suscetibilidades no seu entorno! A racionalidade lhe refinaria o bom senso de saber que qualquer desvio no decoro, mais cedo ou mais tarde, resultaria em um deleite de amargo sabor!
O bom raciocínio o levaria a sentir-se bem com suas virtudes e habilidades, tanto quanto com suas naturais limitações de posses ou destreza. Esse também o faria entender que não é menos, nem mais do que ninguém e se os louros da hora estão sendo entregues a outrem, por justo mérito, é um motivo de alegria e não de inveja! O fino do raciocínio o tornaria, por demais, sábio para deixar-se abalar por sentimentos menores!
Se tudo isso faz algum sentido, penso eu, que se o homem já foi movido, em algum dia do passado, pela razão, o tempo, provavelmente, o tenha feito esquecer disso! Talvez, mais acertado seria dizer que o homem é um animal passional, sentimental, emocional ou algum outro qualificativo, que o faz, a todo momento, agir mais por impulsos emocionais do que pela razão; mais pela vaidade, pela cobiça, pela inveja, pela necessidade que sente de se sobressair a qualquer custo; pela carência que sente de possuir mais do que necessita; de poder, ao mínimo, enquadrar-se na média dos níveis de posses e acessos sociais, aos quais ostentam seus pares e assim por diante.
Chego a pensar que a grande maioria das decisões, se não todas elas, mesmo que resultantes de um processo racional, no fundo, bem no fundo, estão todas estendidas, de algum modo, sobre finas, talvez, nanocamadas emocionais. É provável, que tudo aquilo que é feito, não se realize apenas porque é racional que seja executado. Antes disso, porque uma carência emocional precisa ser atendida. O esmero, nem sempre, vem porque trata-se de uma habilidade natural, mas, quase sempre, porque alguém quer provar para um outro alguém que é superior, que é um macho alfa melhor e poderá garantir o sustento e a segurança à prole! Quem sabe ainda, por desforro de algum desaforo sofrido em algum momento do passado.
Quase tudo tem uma emoção como pano de fundo. A razão pede para banharmo-nos por higiene, mas a emoção nos faz escolher o perfume do sabonete, do shampoo e do desodorante. A razão estética nos pede para pentear os cabelos, mas a emoção nos leva a dar um “talento” no topete.
A razão da competência diz:
─ Cara! Você seria o melhor mecânico de autos dessa cidade!
Porém a emoção diz:
─ Que Mulher Maravilha se interessaria por um homem cheirando a graxa, vestido em calças de brim azul marinho surradas e mãos calejadas. É melhor ser um administrador medíocre de unhas limpas e colarinho branco! Mesmo que esse pensamento seja um equívoco!
A razão mobilidade diz:
─ Dois carros populares são suficientes para o translado do casal!
Porém a emoção diz:
─ Mas leva, incríveis, 30 segundos para fazer de zero à cem! Ou: ─ Mas o vizinho tem carros de passeio de porte médio, além do meu carro já ter 3 anos de uso!
A razão profissional diz:
─ Amigo! Teu trabalho está suficientemente bom!
Mas a emoção diz:
─ Sim! Mas se eu não me desdobrar mais do que o Ernesto, aquele arrogante poderá ser promovido a gerente antes de mim!
E…, por aí vai!
Frequentemente, para todos aqueles que não têm domínio sobre suas emoções, estas fazem com que tais pessoas se desviem do caminho da ética. A palavra ética deriva da palavra grega ethos, que significa estado de espírito que aproxima o homem dos deuses. Isso me leva a pensar em uma outra alternativa para o homem e me pego a divagar sobre o tema. Como seria o homem se ele fosse um ser nem racional, nem mocional, mas, ao invés disso, um ser espiritual?
Pelo menos o modelo que concebo na tela da minha mais apurada imaginação, vejo alguém que estaria apto a juntar o melhor da racionalidade, com o máximo da bondade, da beleza, da nobreza, da justiça e do amor, para compor assim o melhor dos mundos.
Utópico! Diriam muitos. Algo com o que concordo. Porém, se há alguém que ambicione deixar vestígios de sua nobre presença por este mundo de Deus; alguém que gostaria de marcar sua passagem e reverberar sua honrada memória por muitos anos, entre seus descendentes; deveria saber que todo pensamento e toda ação que não forem tomados nessa direção, com certeza, os estarão conduzindo, apenas, ao caminho do pó eterno!
Marcondes 23 de Novembro de 2014 02;14
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