Tenho um irmão maior, mas ele está colhendo o café do nosso patrão. Não se pode atrasar muito, pois os grãos já estão todos bem vermelhinhos e quando amadurecem de mais, passam do ponto e depois não dão a medida que os atravessadores exigem na compra do produto e, com isso, perdem valor na venda. Também não sei explicar muito bem, mas são coisas da roça; sabe?
Por favor não repare minha aparência, viu? Aqui o modo de vida é rústico e não dá pra ficar trocando de roupas a toda hora. Estou toda empoeirada e um pouco ofegante, por conta da subida do morro, mas já estou bem perto de casa e mamãe me espera! A vida aqui é simples e sem sofisticação, todavia, não me falta nada para ser feliz. Às vezes, noto que minha precariedade material e meus andrajos incomodam mais aos outros do que a mim mesma! Não se sofre muito, quando não se tem o que não se sabe que poderia ter! Me entende? Nosso Ana Pegova por aqui é feito de pinhãozinho, soda cáustica e sebo de ruminantes. Sabia que teria essa reação! Mas olha! Deixa a pele e as roupas limpinhas viu! Apesar dos remendos.
Estudar? Até que gostaria. Assim, se eu aprendesse a ler, poderia me deliciar com todas as histórias de Christian Andersen, dos Irmãos Grimm, de La Fontaine e de Lobato. Sem me esquecer das fábulas de Esopo, um escritor famoso da Grécia antiga, e dos Contos da Tradição Sufi, com suas metáforas do comportamento humano e histórias que nos conduzem, por meio de seus personagens, elementos e lugares a uma experiência de aprendizagem rica em criatividade, ampliando, deste modo, nossos recursos e capacidades potenciais! Ah! Lindos eu sei, porém, creio que hoje em dia só a mim, que por aqui vivo, fariam falta. Lembre-se! Não sentimos falta do que não sabemos que existe. Na cidade grande há tanto com o que se distrair que, meninas como eu, devem passar mais horas à frente do espelho fazendo poses para o smart phone, para posteriormente postar no facebook, do que aventurando-se pelo mundo das páginas de papel! Não! Não se trata de crítica, apenas uma constatação! Nem me sinto apta a julgar se melhor ou pior! Humm! Tá começando a pesar!
Sabe! Papai Noel por aqui anda a cavalo e costuma deixar os presentes na tulha velha de café. Isso, quando estamos todos dormindo. Mas para tanto, é preciso deixar um feixe de capim napiê bem cortado para o seu tordilho e algumas espigas de milho bem à vista do equino! Ano passado, o bom velhinho me trouxe uma boneca de pano sardentinha. Dei-lhe o nome de Gabriela. O engraçado foi que planejei surpreende-lo e dormi com a lamparina acesa. Fui vencida pelo sono! O que passou foi que me levantei com o nariz preto da fumaça do querozene e do velhinho mesmo, só os rastros do seu cavalo e algumas bolotas de esterco ao lado do que sobrou do capim!
Marcondes 15 de Dezembro de 2014 01:59
6 comments on “Meu nome é esperança e o teu?”