Por julgar saber, interfere-se no apenas ser o que se é, ou seja, o que se nasceu para ser. Todavia, quem é esse que realmente sabe, quando ante a um mesmo fato há tantas opiniões divergentes? Quem estaria mesmo certo? O que leva cada um a pensar que verdadeiramente sabe? Viria do profundo ou do superficial saber?
À superfície encontra-se a teoria, a fantasia, a carência, o desejo, o delírio, a alucinação, a hipótese, o aforismo, a inconformidade, a paixão, o ufanismo, o ciúme, a inveja, o orgulho, o postiço, o remediado, a projeção, a imaginação, o sonho, a esquizofrenia, a paranoia, a neurose, a psicose, a arrogância, em suma, a vaidade ou, no mínimo, a consequência desta!
De tanto crer que se sabe, muda-se aqui, altera-se lá, enfeita-se isso, levanta-se aquilo, despe-se aqui, cobre-se lá, frequenta-se cá, consome-se acolá, compra-se isso, usa-se aquilo, ajusta-se aquilo outro, busca-se esse, evita-se aquele, aperta-se aqui, solta-se lá, cultua-se esse, repudia-se aquele, colore-se isso, descora-se aquilo, corta-se aqui, amplia-se lá, poupa-se um, condena-se outro e tudo isso por conta da certeza oscilante, comum a quase todos! Uma certeza tão sólida que muda-se a cada instante, à medida em que surja o desconforto aflorado pela certeza mais recente.
E assim esvai-se todos os recursos e junto com eles as existências, pois a superfície é por demais sedutora! Quantos serão os que tem fôlego para mergulhar-se nas profundezas dos propósitos, no âmago das essências, no cerne das emoções, na dureza das verdades, na gênese dos sentimentos, nas sementes do amor, na grandeza da alma e na leveza do espírito? Quantos são suficientemente corajosos para olhar, não o espelho ou a balança, mas a estrutura dos próprios sentimentos? Quantos poderão, na justa medida, encarar a própria verdade, cara suja e mal lavada, para a partir daí construir a beleza inabalável?
Quantos serão aqueles que empenharam o que tinham e o que não tinham, para alcançar um sonhado estado de coisas, que ao final de tudo, para nada serviu por dentro, embora se finja uma forçada altivez por fora? Quantos não vendem a alma por uma certeza superficial? Quantos não se consolam por terem perdido um coisa, já que, em compensação, obtiveram outra, mesmo quando essa outra não era o que, em verdade, necessitavam? Quantos a obsessão não levou ao topo das conquistas e à plenitude de tudo, que no mais profundo de si, significaram um infinito nada? Uma casca maravilhosa por fora, porém profana, ao se considerar o caos sentimental que teima em existir por dentro!
O Homem não nasceu para ser superficial e não há um se quer, que tenha chegado a real felicidade, sem ter encontrado no mais profundo de si a rara grandeza de aceitar-se a si mesmo, assim como foi concebido para ser e de aprender a amar-se como verdadeiramente é, para, a partir daí, amar e aceitar a todos, como verdadeiramente são!
Quem sou eu para dizer tudo isso? Simples. Um feto.
Marcondes 26 de Setembro de 2013 01:47
4 comments on “Antes de ser belo saiba o que a beleza é!”