O que fizeram da tua sensibilidade?

A ManacásOntem quando saiu ainda estava escuro. O dia lhe passou como um flash fotográfico de uma câmera sem memória! Quando todo dia se torna apenas a repetição do que foi ontem, já não há o quê e nem porquê registrar alguma coisa! Com uma vida tão igual a de tantos outros, aceitar o que é imposto parece, mesmo, ser o único caminho.  Quando retornou, já estava  escuro novamente, assim como incontáveis outras  vezes!. Sendo a própria casa, mais um hotel do que um lar, não é de se surpreender que não saiba o nome do vizinho, de onde veio e quantos filhos tem! O que não impede um oportuno “Oi!” “E aí? Beleza?”.

Sonhar com o quê, quando a vida se limita a um eterno e inevitável carnê, sempre adiante de sua capacidade de gerar renda e tão aquém de seus sonhos? O que estaria errado? Os sonhos ou a renda? Quem sabe, ambos! Mas seria diferente para mais alguém dentre o mar de cabeças que o espremem todos os dias nas plataformas do metrô, nos saguões dos aeroportos, ou em meio a legião de inconformados que o ignoram nos infinitos congestionamentos das vias da cidade?

Entre milhões, chega a questionar a própria existência, pois nada mais é do que um mísero ser entre as manadas de figurantes tensos e apressados, que existem apenas para as próprias preocupações, além de, obviamente, servirem para  compor a paisagem urbana. Enquanto espera, ocupa um espaço físico. Porém, nada é, pois lá não está! Apenas o corpo ocupa uma vaga, enquanto o pobre espírito viaja pelos espaços virtuais infindos da mente, buscando alívio para as aflições do dia! O conformismo com tal estado de coisas tomou-o de si mesmo!

Em seu trajeto, manacás florescem e cobrem-lhe o caminho de pétalas que reluzem em distintos matizes! Mas o que seria mesmo um manacá? Algo que o ajudará a bater a meta ou pagar as contas do mês? Um ipê coberto em ouro cintila e enobrece a praça, forrando a calçada de monocromática textura, sobre a qual ele pisa indiferentemente, pois seu olhar tornou-se ‘cinza jornal’ e todo o colorido de sua vida lhe chega por meio das telas de cristal líquido! Sabiás melodiosos festejam o raiar do dia, enchendo a manhã de música ao mesmo tempo em que irritam seu notívago ser e seu intolerante humor. Há anos perdeu o hábito de separar uma tarde para ouvir, não só as músicas que embalaram sua juventude e seus amores, mais do que isso, já não ouve a voz de seu desbotado coração!

Marcondes                     18 de Fevereiro de 2014                01:23

4 comments on “O que fizeram da tua sensibilidade?”

  1. Sergio Rodrigues Responder

    Marcondes,

    Muitas vezes é assim que nos vemos e sentimos, ou melhor, nem nos vemos ou sentimos!

    De repente nos deparamos com um analisar de nossas vidas, o despertar de um sonho. (ou seria um devaneio?)

    Este sonho que não nos faz questionar: Quem sou? De onde vim? Para onde vou?

    De repente, no elevador, olhando o espelho que te fez observar seu semblante, suas rugas ou olheiras, perguntamos:

    Pra que tudo isso? Onde eu quero chegar com tudo isso? Onde tudo isso vai me levar?

    Ao abrir a porta do elevador, um raio de sol fere-nos os olhos e como um bater da varinha magica no ar…..

    O reencontro. Reencontro com o Criador a quem devemos agradecer, pois, afinal, ainda temos a consciência de, recobrar a consciência e tentar subir alguns degraus ao encontro Daquele que nos fará ter vergonha de pensar de quão pouco nós vivemos ou evoluímos e quanto podíamos ter feito.

    Parabéns por despertar todos os dias!

    Forte abraço

    • Francisco C Marcondes Responder

      Estimado Sergio!
      Assim é!
      O enigma da esfinge, estudado pelos sábios da Grécia antiga era esse:
      “Quem sou eu, de onde vou, para onde vou e o que estou fazendo aqui?”
      Epicúro dizia que a felicidade consistia em ser livre, ter amigos e poder refletir sobre a vida. Talvez não seja só isso, mas faz muito sentido.
      Muito obrigado pela tua mensagem e pela tua amizade!
      Tenha um bom dia!
      Um grannnnnde abraço!
      Marcondes.

    • Francisco C Marcondes Responder

      Estimado Edilson!
      Quando faço um contraste da vida urbana e organizacional com a vida simples e intuitiva da roça, também tenho essa sensação. Muito do que fazemos é feito de modo autômato, sem nos darmos muito conta do quê fazemos, para quem fazemos e porquê fazemos. Assim nos tornamos mais frios, o que é uma pena!
      Tua visita sempre é um privilégio!
      Grande abraço!
      Marcondes.

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