As pessoas, de modo geral, desde a adolescência, são orientadas a investir nos estudos a fim de garantirem um futuro melhor do que aquele que tiveram seus pais. Nesse sentido, são incentivadas a serem bons alunos, a fazerem um curso técnico para ter uma profissão (o quanto antes), a aprender inglês, a dominar o pacote office da Microsoft, a fazer uma boa faculdade. De preferência, escolhendo algum curso que lhes garantam um estágio em alguma organização multinacional. Esperando, também, que esse estágio se converta em um bom emprego com um salário dígno. Se possível, entre uma etapa e outra, quem sabe, um ano de intercâmbio nos EUA ou em algum outro país da Europa. Posteriormente, já inseridos na mentalidade característica de nossa sociedade organizacional, provavelmente, fazer um MBA na USP ou na FGV. E quem sabe, se cair nas graças da matriz, ser expatriado para alguma subsidiária do primeiro mundo e obter, por justo mérito, o incontestável respeito outorgado a quem possa ostentar uma carreira internacional.
Um planejamento bem feito renderá a muitos o tão esperado sucesso. Porém, há que se levar em conta que os estudos compõem apenas parte dos pré-requisitos necessários para tanto. Mais do que estudos, para se chegar ao topo é preciso, também, ter competência política. Investindo nos relacionamentos certos, estando no lugar certo na hora certa, falando na hora de falar, calando-se na hora de calar. Reagindo quando couber reagir, retroagindo (com inteligência), quando houver chance de perder. Atacando, quando houver certeza de vencer. Sendo claro, objetivo e assertivo. Tratando os inimigos com respeito e dignidade, mesmo quando vence-los e tantas outras ações, já tão bem descritas em “O Príncipe” de Maquiavel. De todo modo, há que se ter sabedoria, equilíbrio e ‘estômago’! Quem abre mão de entrar no jogo político, pode estar colaborando para que algum tirano, ou alguém, que não mereça, assuma o poder. Assim, o melhor a fazer é desenvolver e liderar uma política do bem, que privilegie o justo mérito (antes que a do mal se estabeleça) ou, no mínimo, aliar-se à facção dos bem aventurados.
Tudo o que foi descrito nos dois parágrafos anteriores, somado às outras ações que esse texto o levou a pensar, porém, aqui não foram contempladas, pode, então, garantir que um executivo chegue à margem dos 60 anos de idade com uns 45 de empresa e no topo da cadeia alimentar. Ao chegar-se nesse ponto, em uma bela tarde, o jovem presidente recém empossado, reunirá todos os colegas do departamento no salão nobre, juntará a esses alguns convidados e dará uma festa, com discursos e presentes ao honrado veterano. O agradecerá por todos aqueles anos de bons préstimos à companhia e lhe entregará um relógio de ouro, com o nome do mesmo gravado. O despedirá com todas as honras e desejará que, daquele dia em diante, o grande homem aproveite a vida e curta o seu tempo livre com a esposa, filhos e netos. Desejará que viaje e faça valer a pena ter nascido! Desse modo, após a cerimônia, o nobre colega esvaziará as gavetas da mesa do escritório, tomará seu paletó, seu chapéu e o rumo de casa. Sim! Casa! Esse lugar sem reuniões, sem compromissos, sem metas, sem budgets, sem atrasos, sem prazos de entrega, sem reajustes, sem cobranças, sem clientes, sem subordinados, sem secretárias, sem concorrentes, sem market share, sem e-mails, sem telefonemas, sem as pressões que o faziam tão importante ao resolvê-las e muito, muito tempo livre e muita paz. Até que, por conta desse sossego todo, o pobre homem morre!
Como assim! Morre?! Sim, morre! Uai! Porque tudo o que fez, ‘ao longo de toda a vida’ foi voltado à carreira e ao trabalho. Deu tanto de si para o êxito profissional, que faltou de si mesmo para a vida! Nunca planejou o momento de parar, não se preparou para o ócio, o lazer, a contemplação, o descanso, o desfrute, a vida sem a empresa e sem o cargo importante! Não tem a mínima noção do que fazer com tanto tempo livre. Começa a querer impor ritmo de empresa à esposa e aos filhos e logo a implicância fará do lar um infortúnio. Reunir-se com os amigos? Que amigos? Os da faculdade e da juventude já o esqueceram. Tornou-se importante de mais para ser incomodado com um convite para o show dos Rolling Stones no Anhembi, para o baile do Havaí no Aramaçan, ou para a cerveja no boteco da Xirley! Imagine se um homem de tal estirpe estaria disposto a rachar um frango assado, que um amigo ganhou na rifa do afamado recinto! Os amigos da empresa, ficaram todos lá e seguem super ocupados, dado o turbilhão organizacional de sempre. Acabou-se a empresa, acabou-se o assunto! Conversar com quem sobre o quê?
Felizmente, esse não é o meu caso e, talvez, não seja o seu, mas não me surpreende saber que muita gente boa termine a vida assim, pateticamente. Por isso, creio que tão importante quanto planejar o trabalho é planejar o ócio, a manutenção das amizades, afinal, há muita vida em outros espaços e ambientes além dos muros do escritório ou da fábrica! Desfrutar de nossas conquistas não é pecado. Entre um compromisso e outro, entre uma missão e outra, separe um tempo para fazer absolutamente ‘nada’, curtir o ócio e ser feliz, enquanto tens energia para tanto!
Marcondes 04 de Agosto de 2014 19:08 (Isso mesmo!)
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