— Nossa! Esse é o terceiro encontro que te vejo com a mesma roupa! Acho que o sapato também é o mesmo da semana passada, não é não?
Ao quê o Javali respondeu:
— Sim! A senhora tem razão. Aliás não me lembro desde quando uso essa mesma roupa. Sabe que para me facilitar a vida, tenho apenas 3 pares de roupas e são todas iguaizinhas, cor, modelo, tudo! Desde modo economizo tempo de manhã. Não preciso decidir entre essa ou aquela roupa! Assim, ganho um pouco de tempo, sabe? kkk
— Mas você não acha isso um tanto monótono? As pessoas podem pensar que você é um bode velho e muquirana, que não tem dinheiro nem para se vestir um pouco melhor! O senhor não acha? Disse a raposa.
— Bode não né Dona Raposa! É capaz do Bode não gostar! Um Javali velho, quem sabe! Mas, pois é! A senhora tem toda a razão e tenho pena das pessoas que possam pensar assim, pois valorizam mais as aparências do que o conteúdo dos seus semelhantes! Ainda bem que tenho minha autoestima elevada! Se não já pensou quanto dinheiro eu não teria de gastar com supérfluos?
— Supérfluos? Disse a raposa.
— Sim supérfluos! Essas coisas que compramos, muitas vezes por impulso ou só para agradar aos demais ao nosso redor, mas que no fundo não as precisamos! Sabe? Tenho comigo que quanto mais uma pessoa gasta, mais carente de atenção ela é! Concordo que todos devam ter um mínimo de vaidade, mas essa deve ser regida pelo gosto pessoal, não pelo que pensam os outros. Quem se veste em função da opinião de outras pessoas, sejam elas quem for, perde a autenticidade e com isso se torna mais um alienado. Mas é uma opinião minha, entende?
— Boa resposta Sr Javali, mas neste mundo ainda há muita empresa que valoriza as aparências! Teu chefe nunca te falou nada?
— Veja só que sorte eu tenho Dona Raposa! Aqui onde presto meus serviços o rei Leão me paga pela minha competência, ou seja, pelos resultados que gero e não pela roupa que eu uso! E sabe? Há tempos que nem me dou conta que os demais colegas usam sapatos! Acho que tenho me concentrado por demais no trabalho! Porém, penso que esses detalhes uma hora ainda vão me trazer algum descrédito. Ao menos com pessoas apegadas à aparência externa. Ainda bem que tenho a senhora por perto para me aconselhar! De todo modo, penso ser mais importante estar limpo e bem asseado do que estar diferente ou na moda! Depois, tem um outro ponto, no fim das contas essa belezura toda vai pesar no meu saldo bancário no fim do mês! Que pobreza, não Dona Raposa? kkk
Dando continuidade à conversa a Dona Raposa falou:
— Sabe que outro dia passei horas no meu i-phone com minha amiga Arara discutindo esse tema. Ela é muito apegada às cores da moda. Aliás acabou de voltar de Paris e me falou sobre as novas tendências na Europa! Por falar nisso! Vejo que o senhor não tem i-phone e ainda trabalha com esse laptop antigo e pesado!
— Pois é Dona Raposa! Tá vendo o relaxo aqui do seu amigo? Sabe que tenho resistido muito ao mundo virtual? Ainda gosto de olhar meus amigos nos olhos e curto muito a possibilidade de espremer seus corpos por entre meus braços! A senhora não tem noção de como eu curto abraçar as pessoas e ler seus semblantes e pensamentos! Ah! Acho isso maravilhoso!
Continuando o Javali salientou:
— Sabe Dona Raposa, às vezes trabalhamos anos com pessoas que se quer sabemos o nome inteiro. Muitas vezes sabemos seus apelidos ou o primeiro nome, mas nada além disso! Não sabemos onde nasceram, se tem filhos ou irmãos, se os pais ainda são vivos, qual o nome deles todos, de onde vieram, se são do interior, que esporte ou lazer praticam! Não sabemos o que fazem nas férias, se gostam de ler, dançar ir ao cinema, enfim, se são felizes!? Coisas assim, sabe? Vivemos um mundo de superficialidades! Ainda acredito que, apesar de todo o progresso tecnológico, as pessoas ainda são movidas a emoções e sentimentos, mas se esqueceram disso! Gosto de estar próximo das pessoas, fisicamente, insisto em dizer que o calor humano ainda é algo vital e mais eficiente, embora reconheça que muitos já não pensam assim!
— E o que o Sr ganha com isso? Replicou a Raposa.
— Teu pensamento é tipicamente mercantilista Dona Raposa, onde as pessoas só se movem se ganharem alguma coisa em troca. Eu sou da era mítico – romântica, onde as pessoas ainda se moviam por amor à vida e às pessoas! No fundo não estou muito preocupado em ganhar nada. Apenas ajo assim por puro prazer! Porém, percebo que, agindo assim, sou mais feliz e creio que as pessoas também reagem de modo favorável, pois sorriem mais pra mim! Gosto muito de ver as pessoas sorrindo! Noto que essa atitude é mais promissora quanto a criar um espírito de equipe ou desenvolver um nível mais elevado de confiança! Pelo menos tem sido assim comigo!
— Mas o senhor não vê que acaba perdendo muito tempo com essas cortesias? Penso que se você se valesse mais das mídias sociais, dos tablets, i-phones, dos e-mails, faria bem mais visitas em um dia e, provavelmente, chegaria à sua meta de vendas mais cedo!
— Trabalho mais do que devia de qualquer jeito Dona Raposa e, com isso, acabo compensando o tempo que invisto em conhecer melhor as pessoas! Confesso que entendo o teu ponto de vista, mas ainda aposto mais na qualidade das visitas do que na quantidade. Estando na frente do meu cliente, sinto melhor as reações e o humor dele, posso ver seus desafios in loco e colocar-me ao lado dele como apoio. Creio que o relacionamento mais pessoal me ajuda a criar vínculos positivos, desde que eu saiba ser útil ao meu cliente! Não duvido que as mídias sociais são ótimas, mas, mesmo assim, o relacionamento é mais frio! Conheci um rapaz que tinha 2.500 amigos no facebook, porém, passou por um mal súbito, ficou 3 semanas internado no hospital e só 3 amigos o foram visitar, contando comigo!?
— Ok! Acho que te compreendo, mas que o tablet é muito melhor que um laptop é! Tudo bem que está ainda um pouco caro e as pessoas menos abastadas ainda não podem comprar! Disse a raposa.
— É verdade! Aceito que, em parte, esse me é mesmo um problema! Contudo, tenho ainda relutado em me desfazer do meu velho amigo aqui, pois ainda consigo fazer tudo o que preciso. Apesar da leveza, do design e tal, ainda acho que um i-Pad, por exemplo, vai me acrescentar mais à estética do que ao desempenho! Provavelmente eu mude meu discurso quando comprar meu tablet, não é Dona Raposa? kkkk
— Com certeza!
— Raposa Querida! Sinto não poder continuar com nossa agradável conversa. Infelizmente! Preciso me apressar, quero fazer uma ligação para minha filha. Hoje ela vai fazer uma entrevista de emprego e está um tanto ansiosa. Quero dar uma palavra de apoio a ela antes e transmitir mais segurança, dizendo o quanto ela é importante para mim! Com ou sem esse emprego! Quero dizer o quanto eu a amo e que boto a maior fé na competência dela e se, por acaso não der certo, é porque Deus está preparando um lugar muito melhor para ela trabalhar e ser feliz!
— Interessante! Disse a Dona Raposa!
Encerrando a conversa o Sr Javali disse:
— Dona Raposa, venha cá! Preciso ir, mas quero antes te dar um abraço! Hummmmm! Olha que Deus te abençoe e ilumine o teu dia! Lembranças a todos da sua toca! Até a vista!
— Até outro dia Sr Javali! Lembranças ao teu pessoal também! Até…
Marcondes 13 de Setembro de 2013 02:39
17 comments on “Primeiro o valor, depois a vida!”