Mais que presente, uma graça!
Da janela do meu quarto avistei, ao longe, rubra esfera vagarosa caindo no poente. Deslizando pelo áureo firmamento, heterogênea navegante, reluzia por entre serenos flocos gasosos que me privavam da sua total percepção.
Descuidado de mim mesmo e daqueles por quem velo, desprendi-me de minhas tantas pendências e obrigações sem fim e pondo me livre de minhas próprias cobranças e frustrações, fui, aos poucos, deslocando-me para lugar nenhum do espaço.
Desapegado do dever e das responsabilidades sobre mim acumuladas, nenhum objetivo norteava o meu pensar e minha existência esvaiu-se de mim, de maneira que tornei-me nulo ante a paisagem da qual emergia a minha pálida existência. Sim eu vivia, contudo, lá não estava. Por um desmedido instante tornei-me intangível, tanto quanto as razões que a este estado me levaram.
De repente, nada havia para se explicar, nada para se alcançar ou para se entender. Não havia nada para se apresentar e também nada para se esconder. Não havia nada notável, louvável, desprezível ou imperdoável, nada havia a se fazer. E foi assim que pude contemplar