Conta-se que certa vez, uma jarrinha, ouvindo os lamentos de um homem que ardia em febre, com a boca ressecada de sede, suplicando para que alguém lhe trouxesse, ao menos, um gole d’água, sentiu-se tocada! Aparentemente, o desafortunado fora esquecido por todos em seu leito improvisado, em um corredor de hospital e ela, a jarrinha, ainda que natureza morta, ante tamanho flagelo, sensibilizou-se!
Por conta disso e por razões que só mesmo a paranormalidade poderia explicar, sentiu a jarrinha tal compaixão que, graças a um superlativo esforço e vontade própria, conseguiu deslizar-se sobre uma pequena mesa, junto da maca, até aproximar-se o suficiente da mão do enfermo. Tal fato, embora pareça ao leitor uma ficção, só foi possível porque, nesses tempos, o descaso com a saúde pública era tanta, que até os objetos começaram a se apoderar de ânimo, como que tomando para si missões, que por lógica, caberiam obviamente aos humanos.
Em seu desespero e crente de que um milagre estava em progresso, aquele senhor esticou seus dedos trêmulos e assim pode alcançar a jarrinha. Agarrando-a firme pela alça, sentiu-se perplexo e aliviado. Enfim, matarei a sede. Pensou! Juntando forças, levou rapidamente a jarra até a boca na esperança de sorver o maior volume de água que lhe fosse possível. Para sua grande decepção, no entanto, ao tocar os lábios à borda da pequena jarra, notou que a mesma estava completamente vazia!
Enraivecido, o moribundo então, reuniu toda a energia que lhe restava e arremessou a jarrinha contra uma parede onde, ao espatifar-se, fragmentou-se em numerosos e inúteis pedaços de vidro.
Por mais nobres que sejam nossos sentimentos, por mais estressantes que sejam nossas agonias, antes de movermo-nos em qualquer direção, é preciso certificarmo-nos de que estamos providos da devida sabedoria e do necessário conteúdo. Grandes frustrações nos ocorrem por considerações equivocadas! Evite tomar desafios por uma única perspectiva.
Obs: Esse texto foi inspirado em conto de Idries Shah, El Monastério Mágico.
Marcondes, 21 de outubro de 2016 02:39
10 comments on “Julgamentos precipitados conduzem ao erro!”