Maximização da Qualidade: uma questão de crenças e valores

Dada a tradição na qual muitos gestores foram formados, quando se fala em melhoria de resultados há uma tendência a enxergar como alternativa única o monitoramento contínuo das atitudes da força de trabalho, seguida de posturas mais ou menos rígidas quanto ao acompanhamento de metas. O enfoque tem sido de modo geral técnico, ou seja, as ações são conduzidas pela idéia de que os trabalhadores devem agir conforme o que foi pré-estabelecido pelo pessoal encarregado do planejamento e da gestão.

Sendo assim, os investimentos em treinamento focam o lado exterior das pessoas, enfatizando o conhecimento do processo e dos métodos convencionais de organização da produção. A experiência mostra, no entanto, que este tipo de investimento gera resultados a curto prazo, contudo, é imprescindível algum tipo de supervisão constante para que metas e objetivos sejam atingidos no prazo desejado.

De modo geral, grande parte dos gestores são céticos em acreditar que a promoção de equipes vencedoras passe pelo aprimoramento interior das pessoas que a compõem, em outras palavras, do conhecimento de si mesmo e da maneira como as interações de valores e crenças interferem nas atitudes humanas.

Ocorre, no entanto, que uma observação mais aprofundada desse tema mostra que pessoas melhor preparadas para lidar com fatores internos, como suas emoções e auto-estima, geram resultados mais significativos, de modo perene e autônomo. Ou seja, a autoconsciência leva as pessoas a agirem melhor, de modo mais positivo e eficaz, e os desgastes emocionais entre líderes e equipes tendem a se converter em harmonia.

É certo que isso não acontece de um momento para o outro. Não há mágica! O que pode haver, sim, é um esforço disciplinado e determinado nessa direção. Isso quer dizer, por exemplo:

  • Tratar do alinhamento entre intenção e esforço, com o objetivo de promover significado para aqueles que podem gerar resultados e harmonia.
  • Procurar identificar as conexões de crenças e valores que potencializem maior sinergia e auto-estímulo.
  • Trabalhar o autoconhecimento através de termos de referência positivos distanciados da polarização entre recompensa e castigo.
  • Levantar as condições necessárias à produção de harmonia entre os propósitos individuais e os propósitos da empresa.
  • Promover a busca de um denominador comum entre objetivos individuais e coletivos, humanos e gerenciais.

A idéia é incentivar o aumento da eficácia produtiva, atuando sobre a cadeia de crenças e valores das pessoas envolvidas no processo, levando-as a uma reflexão sobre o quanto as convicções pessoais de cada um, interferem e limitam o êxito, tanto da empresa como de si próprios.

Ao focar o interior das pessoas, faz-se emergir os temas do comportamento empresarial – afinal não basta ser profissional é preciso parecer e agir como um. Não basta ser uma empresa excelente, também é preciso parecer e agir como tal. Daí advém a importância do tema da comunicação na obtenção de resultados em qualidade e produtividade; a eficácia da postura profissional como propulsora de resultados progressivamente positivos; chegando-se às metas por intermédio de um somatório de pequenos avanços espontâneos e progressivos, norteados por uma cadeia renovada de valores, ao invés da melhoria pontual em dose única, à custa de pressão constante e contínua.

Mudanças de critérios dessa ordem pedem arrojo, aliado a uma visão dinâmica e não condicionada da realidade que nos cerca, mas tem total condição de ser implementada com dedicação e esforço na intensidade certa, seguindo esta perspectiva estratégica.

Uma organização que aceite e abrace esses ideais deve utilizar-se de meios para sua concretização, que ultrapassem as clássicas palestras motivacionais, que atuam somente na superfície da consciência de seus agentes produtivos. É preciso um programa de treinamento mais sofisticado com uma abordagem que diminua o peso dos fatores limitantes, caracterizados pelos padrões superficiais de pensamento e conduta, presentes em todos nós na forma dos diversos condicionamentos recebidos ao longo da vida. Esses elementos da personalidade são obstáculos à compreensão profunda e à utilização produtiva dos recursos individuais. Tratando tais elementos através de uma metodologia específica, abrimos caminho para a aceitação de novos termos de referência, por parte daquelas pessoas da organização, que mais necessitam de flexibilidade em suas atividades profissionais.

A implementação desta metodologia implica na formulação clara de uma Intenção, de um Objetivo, na elaboração de Táticas e na definição de Ações correspondentes (IOTA). Para esta implementação é imprescindível que o desenvolvimento humano seja construído a partir da observação de si mesmo, procurando incutir novos valores e promovendo mudanças por meio da auto reflexão ao invés da crítica. A idéia é educar e não treinar. Pessoas treinadas repetem o que lhes foi ensinado sem, necessariamente, pensar, pessoas educadas agem corretamente por consciência e intuito próprio.

A questão maior é: Como renovar a já consolidada, cadeia de valores, embasada em hierarquias de poder convertendo-a em auto-gestão positiva? Especialistas têm logrado êxito neste sentido, com o emprego de contos de ensinamento, que constituem instrumentos de forte conteúdo simbólico. Estes instrumentos engrenam-se, simbólica e metaforicamente, às realidades concretas que devemos tocar inerentes a cada organização em particular. Colocam valores em perspectiva, contudo, de maneira indireta, porque trabalha sempre com personagens fictícios, enredos e parábolas que permitem, a cada um, rever suas posições, sem que para isso necessitem se expor.

A validade desta metodologia inspira-se em frase de Willian Blake, que dizia que “um homem convencido contra a sua vontade, ainda tem a mesma opinião”, assim, a maximização dos resultados só virá quando as pessoas estiverem autoconvencidas de que isto é o que deve ser feito.

Eng. Msc Francisco C.Marcondes

Mestre em Engenharia Mecânica pela UNICAMP e Sócio Diretor da Merithus Consultoria em Marketing e Engenharia

Dr Roberto Cacuro

Psicanalista e Consultor Organizacional – Doutor em Saúde Pública pela USP.

Deixe uma resposta